5/31/2006

GRUPO 4

1. Enquadramento

Os projectos de intervenção a propor, orientados para as instalações da SNBA, estão limitados pela impossibilidade de afectar a funcionalidade actual dos espaços objecto, bem como a sua presente estrutura arquitectónica.

Por outra lado, deverão remeter-se, em termos de localização concreta, às zonas que, mais acentuadamente, se caracterizem como indo ao encontro do conceito de “não-lugares”, de acordo com as ideias expostas pelo antropólogo Marc Augé, desenvolvidas na “Introdução a uma Antropologia da Supermodernidade”, designadamente na vertente espacial de aceleração do mundo contemporâneo.
2. Local de intervenção

Os locais de intervenção que se propõem são as portas das duas instalações sanitárias, situadas à esquerda (masculina) e à direita (feminina), passando do Hall para o salão de exposições principal, e na passagem para o piso inferior.

Em primeira análise, na fase de abordagem ao tema, colocaram-se alguns problemas de ordem técnica, associados às limitações atrás expostas, que afinal, após alguma pesquisa, se revelaram, aparentemente ultrapassáveis.
3. Proposta

Cada uma das portas tem de altura, 198,0 cm., e de largura, 76,5 cm., sugerindo-se a colocação de 2 chapas, cobrindo-as praticamente , de PVC, material bastante leve, com 5 mm de espessura, na parte exterior e suspensas na parte de cima de cada porta, por via de ganchos tipo “pescoço de cavalo”, ligados à placa através de chapa galvanizadas, aparafusados à placa.

Na parte superior da placa seria colado, com bi-adesivo, um espelho, que poderia ter formas diferentes em cada porta, ou não, aspecto ainda em aberto, e a definir pelo grupo. Os espelhos teriam de altura cerca de 56 cm., por forma a restar até ao limite inferior da porta um espaço máximo de 150 cm.

Na parte inferior da placa seria em princípio colada uma fotomontagem de múltiplos corpos (sem cabeça). Numa porta, os masculinos e, na outra, os femininos, estando em aberto a coloração desse suporte fotográfico.



4.Fundamentos

Uma casa de banho pública é por excelência um não-lugar - espaço descaracterizado e despersonalizado, frequentado por seres anónimos – produto da contemporaneidade, sendo o contraponto extremo do lugar identitário, onde por outro lado, avulta o factor isolamento. De modo geral, através dos não-lugares descortina-se um mundo provisório e efémero, comprometido com o transitório e a solidão, neste caso bem expressos.

Um outro ponto de vista interessante é a desagregação das duas instalações em função do sexo, representando uma circunstância extrema e bem clara de especialização funcional e de convenção social que se aceita sem pensar nem reflectir, enquadrável no tema mais abrangente das relações entre os sexos opostos.

A introdução do elemento espelho, à entrada da porta, produz uma ruptura momentânea com a referida despersonalização, conferindo a cada um que se olha uma identidade.

Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo/com mais identidade do que eu?

A reflexão sobre o espelho é igualmente uma reflexão sobre o eu, num tempo em que, segundo Marc Augé, tudo é aceleração. A intensa necessidade de conferir sentido ao mundo aplica-se, também, ao indivíduo, pois este "quer ser um mundo ele mesmo".

Pretende-se estabelecer uma analogia à sociedade e, concretamente, à aceleração do eu. O espelho traduz a paragem e a observância do indivíduo.

Por outro lado, a multiplicidade de corpos remete-nos para o desdobramento, a despersonalização, o anonimato, a proliferação de imagens, em oposição a um só rosto, a um só eu.